Pedro Mariano: A vida como Director de Prova do EnduroGP
Dos pilotos aos staffs das equipas, organizadores e promotores, Pedro é um rosto familiar para todos no paddock do Campeonato Mundial de EnduroGP FIM Paulo Duarte há mais de 15 anos. Em contacto constante com todos, é sua responsabilidade proporcionar corridas seguras com o alto padrão de um Campeonato do Mundo FIM.
Nascido e criado em Portugal, onde Lisboa é sua casa, o ex-engenheiro florestal e jogador profissional de basquete está profundamente enraizado no enduro há mais de três décadas. De piloto a dirigente desportivo, tanto na Federação Portuguesa de Motociclismo (FMP) como na Federação Internacional de Motociclismo (FIM), dedicámos cinco minutos a Pedro para saber mais sobre o seu papel no EnduroGP e como, na adolescência, teve de esconder a sua moto de enduro da mãe...
Pedro, conta-nos como começou a tua ligação ao enduro. Ouvimos dizer que foi pouco convencional!
Pedro Mariano: “Comecei a andar de moto aos 17 anos. A minha mãe, para não me comprar uma Casal Boss, que era o sonho de toda a gente na altura, ou uma DT50, deu-me uma Moto 4! Custava quatro vezes mais, mas tinha quatro rodas e, segundo ela, era mais segura. Então, eu usava-a para ir à escola e para outras atividades. A minha primeira mota a sério surgiu graças ao evento de Enduro da Lousã. Comprei-a em Leiria, mas guardei-a escondida em casa do meu tio, na Lousã, para os meus pais não descobrirem. Costumava andar nela aos fins de semana, sempre que ia lá!”
Quando surgiu a paixão pelas corridas?
“Em 1990. Na época, eu era jogador profissional de basquete na primeira divisão, mas as motos, especialmente o enduro, sempre me fascinaram. Um amigo próximo da Lousã emprestou-me uma moto para o primeiro evento de enduro realizado lá. Decidi aceitar o desafio e inscrevi-me. Não ganhei, mas fiz o melhor tempo em todas as especiais. No entanto, cheguei quatro minutos antes ao último posto de controle e fui penalizado. Acabei quase em último na minha classe. No total, corri enduro por nove anos antes de passar para o rali-raid e terminar na Moto 4.”
Como foi a transição de piloto para dirigente federativo na FMP e depois na FIM?
“Infelizmente, tive de parar de correr em 2000 devido a problemas de saúde. Fiquei hospitalizado durante dois anos e foi um perÃodo complicado. O atual presidente da FIM já me conhecia da minha participação na equipa nacional de enduro, onde corri três 6DAYS® FIM Enduro of Nations (ISDE). Quando uma nova direção assumiu a FMP, fui convidado pelo Eng.º António Pocinho para liderar a Comissão de Enduro em 2001. Mais tarde, quando Jorge Viegas regressou à presidência, convidou-me para Lisboa para servir como seu Secretário-Geral. Desempenhei ambas as funções simultaneamente.”
E a tua trajetória na FIM?
“Comecei na FIM por volta de 2002/2003, ingressando na Comissão Ambiental, onde permaneci por dois anos. Durante esse perÃodo, ajudei a criar os primeiros materiais de treino ambiental e o primeiro exame ambiental, juntamente com dois colegas britânicos. Sempre tive um grande interesse pela Comissão de Enduro, mas o regulamento interno da FIM permitia apenas um representante por federação nacional por comissão. Assim que isso mudou, migrei imediatamente para a Comissão de Enduro, onde atuo até hoje.”
Quando assumiste o cargo de Diretor de Prova da FIM?
“Em 2009, quando Portugal sediou o 6DAYS® FIM Enduro of Nations (ISDE), um novo Diretor da Comissão apresentou a ideia de ter representantes permanentes da FIM em cada evento. Foi assim que as funções de Diretor de Prova e Inspetor de Percurso foram criadas. Sou o Diretor de Prova desde então, já faz 15 anos. O Inspetor de Percurso mudou duas vezes, com Maurizio Micheluz atualmente no comando. As nossas funções são cruciais, não apenas representando a FIM e os pilotos, mas também apoiando os organizadores locais.”
Que tarefas e funções estão envolvidas na função de Diretor de Prova da FIM?
“O trabalho começa meses antes do evento, analisando os regulamentos complementares. Abordamos quaisquer preocupações com os organizadores e fazemos o acompanhamento com inspecções no local, lideradas por Maurizio. Enquanto ele se concentra no percurso e nas especiais, a minha responsabilidade é garantir que os regulamentos e as normas da FIM são totalmente aplicados e gerir todos os aspectos administrativos e operacionais durante o evento. A coordenação estreita com o Secretário do Percurso é essencial. É por isso que insisto em tê-lo comigo durante toda a corrida, especialmente quando decisões rápidas são necessárias em momentos de crise, como interrupções relacionadas ao clima, penalidades ou alterações no cronograma. Essas decisões devem ser tomadas rapidamente e, uma vez tomadas, devem ser cumpridas. Nem sempre são perfeitas, mas a prioridade é sempre a segurança e a justiça.”
Como o enduro evoluiu em termos de responsabilidade ambiental?
“O enduro sempre foi uma das disciplinas com maior consciência ambiental. Desde a década de 1990, utilizamos pneus ecológicos, realizamos testes de som e introduzimos tapetes ecológicos para reter fluidos. Isso é crucial, visto que a maioria dos eventos acontece em áreas florestais. A FIM também lançou o programa KISS (Keep It Shiny and Sustainable) para promover a sustentabilidade no desporto motorizado. Se queremos respeito e visibilidade, devemos agir com responsabilidade e alcançar aqueles de fora do desporto, especialmente o público urbano que frequentemente critica as motos. No ano passado, todas as etapas do Campeonato Mundial de Enduro da FIM incluÃram um evento KISS. Acredito que nenhuma outra disciplina alcançou isso. Iniciativas de plantação de árvores em locais de corrida, por exemplo, tiveram um impacto duradouro — voltamos anos depois para ver as árvores que plantamos a prosperar.”
Por fim, o que nos podes dizer sobre o próximo GP de Portugal, em setembro, que substituirá o GP da França?
“O GP de Portugal em Vila de Rei está a ser preparado com grande empenho. Felizmente, tivemos um clube com experiência nacional ansioso para voltar a organizar. Após duas visitas ao local, acredito que as condições necessárias estão reunidas para substituir com sucesso a corrida cancelada. Apesar do curto prazo, do orçamento limitado (dado o pequeno tamanho do MunicÃpio) e do alto risco de incêndio florestal, a equipa organizadora está a fazer um trabalho extraordinário. Estamos até a preparar um plano de contingência: se necessário, adaptaremos a corrida para um sprint enduro com testes especiais em áreas urbanas. Este pode acabar por ser um dos destaques surpreendentes da temporada.”
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